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sábado, 11 de outubro de 2014

Biografia e Bibliografia de Machado de Assis

Ø  As fases e faces de Machado de Assis: homem, obra e crítica

Em face da sua obra, toda conclusão do leitor é um risco, porque nela o senso do mistério que está no fundo da conduta se traduz por um desencanto aparentemente desapaixonado mas que abre a porta para os sentidos alternativos e transforma toda a noção em ambigüidade. 
 Antonio Candido

O Homem  

Nascido em 21 de junho de 1839, Joaquim Maria Machado de Assis era filho de um brasileiro pintor de paredes e de uma açoriana que lavava roupas para fora. Ela morreu quando Machado ainda era muito jovem, e, ao que consta, foi a madrasta, Maria Inês que o ensinou as primeiras letras. Sua infância foi simples e dura, e seus estudos foram realizados em escola pública. Provavelmente exerceu a função de coroinha, o que lhe teria permitido algum contato com o idioma francês e o latim, gramática e aritmética. Aprendeu francês nas poucas aulas às quais assistiu na escola, e com uma família francesa que o ensinava a noite. Machadinho, como era conhecido na infância, chegou a vender balas para ajudar no orçamento doméstico.
O début nas letras deu-se aos quinze anos, em 1855, quando publicou o poema ‘’Ela’’, na Marmota fluminense, por recomendação do editor Francisco de Paula Brito. No ano seguinte, consegue o posto de auxiliar de tipografia, sob as ordens do escritor e jornalista Manuel Antônio de Almeida, autor do então recém-publicado Memórias de um sargento de milícias. Esse escritor, percebendo o grande interesse que seu novo funcionário tinha pela leitura, fazia vista grossa para o fato de Machado, às vezes, distrair-se do trabalho, para absorver-se em seus amados livros.
Em 1858, Machado passa a trabalhar na tipografia Paula Brito e, após um ano, como revisor e colaborar do Correio Mercantil. Dois anos depois, sensibilizado com a morte prematura de Manuel Antônio de Almeida, vítima de um naufrágio do vapor Hermes, escreve uma pequena homenagem ao antigo chefe, em uma de suas crônicas.
Em 1867, torna-se diretor do Diário Oficial, o que lhe assegura um ordenado fixo razoável. Aos trinta anos, casa-se com a portuguesa Carolina Novaes Xavier, com quem viverá até a morte desta, em 1904. Seu último romance, Memorial de Aires (1908), por sinal, contém alguns elementos fortemente ligados à rotina do casal. Trata-se de sincera homenagem à falecida esposa, à qual era muito ligado.
Em 1873, além de colaborar intensamente em crônicas publicadas periodicamente, traduzir e fazer resenhas teatrais, inicia sua longe e ininterrupta carreira em funções públicas. Seu posto inicial foi o de primeiro oficial da secretaria de Estado do Ministério da Agricultura, Comércio e Obras Publicas. Cargo duplamente oportuno, já que era profundo conhecedor e cronista da cidade.
Entre 1879 e 1879, passa alguns meses em Friburgo – RJ, em razão do agravamento de doenças na visão e intestino. Ao retornar ao Rio de Janeiro, da início ao romance célebre ainda em vida Memorias Póstumas de Brás Cubas, publicada em folhetim entre março a dezembro de 1880. Na mesma época em que saiu a edição em livro 1881, Machado prepara seu terceiro e talvez melhor conjunto de contos e congêneres, Papeis Avulsos, encabeçado pela novela ‘’ O Alienista’’. Ao lado da profissão burocrática, progrediam as atividades de escritor, e, com quarenta e um anos de idade já conhecia o gosto da fama.
Foi homem de vários êxitos. Paralelamente à ascensão na carreira pública – chegando ao cargo de diretor de contabilidade do Ministério da Aviação, sobe a presidência de Afonso Pena -, havia a face cultural. Da literatura seguiu em direção ao estudo de lingas, filosofia, ciência e religião. Era também um leitor disciplinado: ao morrer deixou uma biblioteca de aproximadamente 800 volumes - algo incomum naquela época, haja vista a dificuldade com que determinados livros chegavam e circulavam ao pais.
Em 15 de dezembro de 1896, com 57 anos, ao lado de dezenas de outros intelectuais de nosso Segundo Império, como Quintino Bocaaiúva e Artur Azevedo, Machado de Assis inaugura a Academia Brasileira de Letras, recebendo título de patrono e presidente. No ano seguinte, assiste á publicação do libelo de Silvio Romero, Machado de Assis: Estudo Comparativo de Literatura Brasileira, em que esse crítico – adepto ferrenho da Escola do Recife – procura desqualificar o mérito do escritor, a partir de justificativos se deu os pseudocientíficas, embalado na retorica positiva. Diz Silvio Romero: ‘’ Esse pequeno representante do pensamento retorico e velho no Brasil é o mais pernicioso enganador que vai pervertendo a mocidade. O autor de Brás Cubas, bolorento pastel literário, assaz o conhecemos por suas obras, e ele será julgado’’. Neste último aspecto, Romero acertou totalmente. A posteridade julgou Machado, ele elegendo-o o nosso escritor maior.
No ao de 1908, cercado por uma absoluta maioria de admiradores que o reconhecia como o maior homem de nossas letras, Machado de Assis morre em 29 de setembro, bastante debilitado fisicamente e após 4 anos de sofrida viuvez. Ao problema crônico de visão somavam-se crises intestinais e ulcera na língua, provocada pelos constantes ataques epiléticos. É o fim da vida: Machado, ateu, recusa a extrema-unção, à hora da morte.
Totalizou a composição de 9 romances, praticamente 200 contos, perto de 600 crônicas, 4 livros de poesia e dezenas de ensaios (entre estes notável Instinto de nacionalidade, escrito aos 24 anos). Em sua obra incluem-se também a já mencionada crítica teatral (Ideias sobre o teatro, Ideias vagas, O presente, O passado, e o futuro da literatura, entre outras), bem como a tradução de poemas (por exemplo, ‘’ O corvo’’ de Edgar Alan Poe), e de peças teatrais diversas, principalmente francesas levada acabo quando era bastante jovem.

A Obra

Machado de Assis estreou como romancista em 1872, com Ressurreição. Teve dois estágios bem marcados: o romântico e o realista.
Há, em sua prosa, momentos marcados por notáveis distinções em que algum romantismo e graça na descrição de caracteres são substituídos pelo ceticismo, ora cínico, ora hipócrita, de grandes vultos machadianos, como o defunto-autor Brás Cubas (Memorias Póstumas de Brás Cubas); o casal de oportunistas, Palha e Sófia ( Quincas Borba); o advogado possessivo e mimado Bento Santiago (Dom Casmurro); o narrador de olhar irônico e sarcástico Conselheiro Aires, dos últimos romances, Esaú e Jacó e Memorial de Aires.
Além do ciúme e do egoísmo, a loucura é ouro tema recorrente em Machado. Serve de mote e núcleo estrutural a várias narrativas, como O Alienista, Dom Casmurro e Elogio da Vaidade.

Na denominada primeira fase, constata-se uma maior tendência ao panorâmico, aos arrufos e intrigas domesticas ou sociais que, de uma forma ou de outra, serão resolvidas, ainda que de modo trágico. Na segunda fase, entretanto, seus narradores exibem-nos personagens gradativamente mais complexos e frios. Fortemente apegados ao status social, refletem ou provocam serias turbulências em seu campo de relações, obcecados que estão pela conveniência social e a tranquilidade financeira. 

Helena - Machado de Assis: Resumo da Obra e Análise dos Personagens


Helena - Machado de Assis


Ø  Resumo da Obra

Depois de fazer a sesta, o Conselheiro Vale, viúvo rico que morava com o filho Estácio e com a irmã Úrsula, morre de apoplexia fulminante. Aberto o testamento, verificou-se que este trazia a revelação de um segredo perturbador: o Conselheiro tinha uma filha ilegítima e determinava que ela fosse retirada do colégio onde estudava para morar com a sua família e participar em igualdade de condições na herança paterna. Assim se fez, embora sob protesto de D. Úrsula, que reage com um certo preconceito a chegada de Helena, e do advogado da família, Dr. Camargo, que pretendia casar sua filha Eugênia com Estácio para que pudessem desfrutar da herança do moço, e mais um familiar só iria diminuí-la. 
Helena veio, pois, morar na bela chácara do Andaraí. -na de início a indisposição da tia, a desconfiança do irmão e a perplexidade das pessoas amigas da casa. Mas D. Úrsula, que relutava em reconhecê-la sua sobrinha, passou a admirá-la e a querê-la como a um parente. Estácio logo se deixou prender pelos encantos e delicadeza da irmã, como o próprio a descreve: ‘’Helena tinha os predicados próprios a captar a confiança e a afeição da família. Era dócil, afável, inteligente. Não eram estes, contudo, nem ainda a beleza, os seus dotes por excelência eficazes. O que a tornava superior e lhe dava probabilidade de triunfo, era  a arte de acomodar-se às circunstâncias do momento e a toda a casta de espíritos, arte preciosa, que faz hábeis os homens e estimáveis as mulheres. Helena praticava de livros ou de alfinetes, de bailes ou de arranjos de casa, com igual interesse e gosto, frívola com os frívolos, grave com os que o eram, atenciosa e ouvida, sem entono nem vulgaridade. Havia nela a jovialidade da menina e a composição da mulher feita, um acordo de virtudes domesticas e maneiras elegantes.’’ e se tornaram de tal modo amigos que, pouco a pouco, esses laços fraternais e esses contatos fizeram nascer, imperceptivelmente, sem que eles desejassem, um sentimento mais forte.

Estabelecido o conflito, ele se acentuou, e teve início a destruição da felicidade perfeita que quase chegou a reinar naquela casa. Estácio, sem o saber, apaixonou-se por Helena, e esta não fugiu à atração que o presumido irmão lhe despertava. Passeavam todos os dias a cavalo pelos arredores, consultavam-se em tudo e se compreendiam muito bem.

Um casamento foi concertado em família para Estácio, com a filha do advogado Camargo. Outro enlace foi combinado para Helena, com Mendonça, amigo de Estácio. Este não se conformou com o noivado da irmã e a ele se opôs.. Alegando que ela não amava Mendonça, e, segundo lhe tinha confessado certa vez, amava muito a outro homem. Começou, para os dois presumidos irmãos, o clímax do enredo amoroso em que mergulharam. O Padre Melchior, amigo da família, adivinhou o terrível segredo, e um dia o expôs cruamente a Estácio, que ficou muito perturbado. O padre conversou com Estácio para dar fim aquele pecado medonho, o amor incestuoso. Então descobriu Estácio que Helena, nos seus passeios a cavalo, visitava uma casa velha das proximidades e lá se encontrava com um homem de meia-idade, de aspecto pobre, um fracassado da vida. Roído de ciúmes, Estácio reuniu a família para comunicar o crime de Helena. Perplexos, indagam todos que segredos teria ela com aquele homem, o que a levava a com ele encontrar-se às escondidas. Desesperada, a moça confessou que aquele homem da casa velha, pobre, fracassado, infeliz, era o seu verdadeiro pai. Sua mãe o deixara pelo Conselheiro Vale, que lhe dera tranquilidade e uma vida de conforto, embora clandestina. E de tal modo o Conselheiro Vale afeiçoara-se à mãe e à filha que resolvera, como disposição de última vontade, reconhecer Helena como filha e integrá-la a sua família e na sua herança.

Helena e Estácio, pois, não eram irmãos e se podiam amar livremente como pediam seus corações. Mas... e o escândalo que se seguira? E a repercussão social de tal situação? Angustiada por este terrível dilema, Helena adoeceu gravemente. Passou vários dias em estado desesperador e por fim, morreu.

Ø  Análise dos Personagens


Helena - Protagonista. Era filha de Ângela e Salvador, mas fora reconhecida como filha do Conselheiro Vale. Era uma moça de 16 a 17 anos, delgada sem magreza, estatura um pouco acima da mediana, talhe elegante e atitudes modestas. Era sensível, emotiva, romântica e muito forte. Conquistou a todos com suas qualidades e despertou o amor de Estácio, seu suposto irmão, e Mendonça, amigo de Estácio.

Estácio - Suposto irmão de Helena, filho do Conselheiro Vale e sobrinho de D. Úrsula. Estácio era homem dotado de qualidades como a ternura, a vontade, a paixão e grande elevação de sentimentos com seus toques de orgulho, a quem herdou de sua falecida mãe. Ele dedicou-se muito aos estudos, entregando-se com afinco e ardor a ciência, sendo referência entre seus colegas.

Conselheiro Vale - Pai legitimo de Estácio, adotivo de Helena e irmão de D. Úrsula. Era um homem rico que ocupava elevado lugar na sociedade, morreu aos 54 anos de idade, vitima de apoplexia fulminante.

D. Úrsula - Irmã de Conselheiro Vale. Era uma mulher eminentemente severa a respeito de costumes.

Eugênia – Era filha de Dr. Camargo e D. Tomásia, era apaixonada por Eugênio e pretendia se casar com ele, mas acabou trocando votos com Mendonça, amigo de Estácio.

Dr. Camargo – Médico e velho amigo da família. Camargo era pouco simpático à primeira vista. Tinha feições duras e frias, os olhos perscrutadores e sagazes, pouquíssimo atraente. Tinha 54 anos, mesma idade que o Conselheiro Vale, seu amigo, tinha quando morreu.
Era um homem que falava sempre pouco e seco. Era egoísta, interesseiro e não deixava transparecer seus sentimentos. Em relação a religião era incrédulo, mas para a sociedade se fazia de bom católico.

Padre Melchior - Amigo da família. Era capelão em casa do Conselheiro. Tinha 70 anos, era homem de estatura mediana, magro e calvo. De compostura quieta e grave, austero sem formalismo, sociável sem mundanidade, tolerante sem fraqueza, era o verdadeiro varão apostólico, homem de sua Igreja e de Deus, íntegro na fé, constante na esperança, ardente na caridade.


Mendonça - Amigo de Estácio que estava na Europa e se apaixona por Helena. Quando negado por ela, pede Eugênia em casamento para esquecê-la.

Ângela - Mãe de Helena que teve um caso amoroso com o Conselheiro Vale em algum momento de sua vida.

Salvador - Legítimo pai de Helena.